sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Não existe hora certa pra nada. Esperar o dia certo para escrever, a pessoa certa para se apaixonar, aquele emprego que pode salvar todas as suas frustrações econômicas. A gente idealiza a vida de um jeito irresistível. Mas depois descobrimos que o irresistível mesmo é opor-se a ela. E ao tomar essa coragem, embarcamos em expedição sem volta. Aceitamos viver em alto mar, podendo respirar brisa fresca ou sermos engolidos pela maré.
Ficar acordada para sempre. Essa é a vontade que tenho, na maioria das vezes, durante o caminho que faço de casa para o trabalho.

A bênção de poder enxergar. O que seria de mim sem meu perfeito globo ocular abraçando o rosto? Junto dele, meus óculos. Óculos e ósculos. Meus óculos me permitem oscular.

E eu beijo. Beijo cada cena como se fosse um enorme sorvete. E meu corpo fica doce.

Circundar o mundo todo com os braços meus. Engolir os mares, areias, conchas. Chamar tudo de meu. E é, não é? É meu e seu. É de nós. E de todo mundo que se permite sentir.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Indócil reflexo


Diz pra mim
Que o nada não te atrai
Mas não consigo crer

Como não aguça tua curiosidade
Pensar que no nada das águas
nadam tudo?

Não achas violento que
mal coloca-se a cabeça
entre as frestas de um deque
para espiar a vida simples
na superfície da água escondida
e o lago já te rouba a face inteira?

Não te incomodas pensar
que toda vez que fores baixar
na beira de uma bacia d'água
terá que oferecer outrora
toda a sua fronte?