domingo, 14 de dezembro de 2014

QUE ESCORRA A LÁGRIMA, MAS NÃO SEQUE A EXISTÊNCIA. VIVER INTENSAMENTE AS PRÓPRIAS TRAGÉDIAS É TAMBÉM UM ATO DE AMOR...


sábado, 13 de dezembro de 2014

Carta à mãe II

Como dói me desgarrar assim, como se o cordão umbilical que nos unia tivesse sido rasgado com os dentes meus e seus. Você pensando me trazer pro lado certo da vida e eu tentando te fazer entender que o certo não existe. Como dois cães a brigar por um pedaço de carne, enchemos as gengivas de nosso próprio sangue por um punhado maior da razão que nos divide.

A ternura daquele antigo caminho se perdeu no gosto de fósforo do sangue nosso. De lírio doce, minha rainha, nos tornamos rosas lindas e afiadas, incapazes de conviver lado a lado. E, dentro de minhas delicadas pétalas, se esconde esse amor forte e mal resolvido, mas um amor, ainda assim. E prefiro mesmo pensar que ele esteja mal resolvido. Porque não quero jamais concluir que ele tenha sido resolvido assim.

(31.10.13 - 22h33)


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Deixa eu marcar
o teu pescoço
de desejos

Te causar
lampejos

Pingar
em ti
as minhas vaidades


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Epístola em brasa

Entenda de uma vez por todas que eu sou uma pessoa inteira. Minha pele envolve um corpo não apenas vivo, mas permanentemente em chamas. Eu solto faíscas.

Gosto de sentir cada partícula que envolve esse nosso sexo, porque se não fosse assim eu não seria capaz de perder o meu tempo. Eu amo o amor, e não necessariamente você - isso vai depender muito. Mas por amar o amor eu me envolvo, e por ser inteira eu também te engulo inteiro. Pra mim é tudo ou nada. Não tenho mais espaço pra momentos vazios, porque meus poros jorram vida com uma intensidade incompatível com qualquer tipo de frigidez. Não quero que você me coma. Quero que me mastigue, lamba os beiços, chupe os dedos. Quero que acenda a luz. Que decore as curvas do meu corpo, o formato dos meus seios e que se compadeça dos meus gritos mudos para não acordar a vizinhança. Quero que me dê carinho, faz que vai dar beijinho, e bem baixinho, diz que sou a sua puta. Pois te gosto com doçura, mas te quero com malícia.

Enquanto você for água, te bebo pra matar a minha sede. Quando você virar fogo, a gente se consome até o fim. E apesar de tudo isso, às vezes, ainda me sinto covarde. Um pouco mais de coragem e eu dava um jeito de a gente sucumbir no ato, só pra saber como é morrer de amor.

Veja bem: escrevo-te não porque desejo respostas. Escrevo-te porque transbordo. Mas são sentimentos tão livres que não seriam capazes de prender-te a lápis e papel para responder-lhes. O que sinto é como o pássaro que te acorda docemente pela manhã, oferece-te um canto despretensioso e voa... Ele não espera que tu abras a janela para admirar-lhe as notas afinadas e cantar-lhe de novo. O canto do pássaro entra pelas frestas adentro porque é leve, fluido e desafetado. Assim, exatamente assim, te ofereço essas palavras.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Flashback contínuo e indesejado

Sou bicho solto
Kau Mascarenhas
mas arredio
Mesmo no cio
Não me deixo
verdadeiramente
tocar

Tuas mãos passeiam
pelo corpo meu
Mas a seda dos dedos teus
arranham como
espinhos

E o fogo do amor
melindroso
transforma-se
num flashback contínuo
e indesejado

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cura

 
LOUCA
LOUCURA
LATENTE
OU ESTRIDENTE
 
SER DEMENTE
FAZ A GENTE
DIZIMAR
AS CORRENTES

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Coração a galope

Foto: Rodolpho Morais / www.rodolphomorais.com.br
Os pensamentos flanam
numa dança rítmica, leve e fugidia

Livres

por assim dizer

Brincam de ir e vir

E eu aqui

En

lou
que
cen
do

Trocando os pés na coreografia

da dança que faço
entocada nessa prisão de portas abertas

No duplo papel

De escrava e amante da liberdade

Caçadora dos meus próprios devaneios 

que vêm a milhão e vão sem apego

Um coração a galope

Transbordante
Transcendente
Indecente
Que foge
Desesperadamente
do desvendamento





segunda-feira, 13 de outubro de 2014

RETALHOS


Eis-me aqui
Uma evolução do que fui
Uma falha do que gostaria de ser

Vivendo a vida do vagalume
Incompreendido

Feliz em sua capacidade própria
de produzir luz
Mas fugidio

Observador do mundo
Através da película
Formada por uma clandestinidade doce
e ressentida
da vida

terça-feira, 29 de julho de 2014

Decerto
As setas do caminho
Não deram certo

Incerta
Preferi ir por aí
Soltando o coração
Num sortimento de sentidos
Sem alinhamento

Surtar às vezes faz bem

Ir na direção oposta também

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Não deixe que te escapes


Não deixe que te escapes
A liberdade de ser
ser humano
apenas
e não ser o-que-se-deve-ser
Jamais atropele
o ser que és
Apesar de o ser-de-verdade
ser deveras arriscado.