sábado, 13 de dezembro de 2014

Carta à mãe II

Como dói me desgarrar assim, como se o cordão umbilical que nos unia tivesse sido rasgado com os dentes meus e seus. Você pensando me trazer pro lado certo da vida e eu tentando te fazer entender que o certo não existe. Como dois cães a brigar por um pedaço de carne, enchemos as gengivas de nosso próprio sangue por um punhado maior da razão que nos divide.

A ternura daquele antigo caminho se perdeu no gosto de fósforo do sangue nosso. De lírio doce, minha rainha, nos tornamos rosas lindas e afiadas, incapazes de conviver lado a lado. E, dentro de minhas delicadas pétalas, se esconde esse amor forte e mal resolvido, mas um amor, ainda assim. E prefiro mesmo pensar que ele esteja mal resolvido. Porque não quero jamais concluir que ele tenha sido resolvido assim.

(31.10.13 - 22h33)


Nenhum comentário:

Postar um comentário